A explosão das Lives nos abre um portal para um novo e nunca antes vivido momento da comunicação como um todo, seja corporativa, seja do entretenimento, marketing, treinamento, balé, zoológico, pets e até o Papa!
Por Simone Cyrineu, CEO e fundadora da thanks for sharing
Vivemos atualmente duas pandemias: a do Covid-19 e a das Lives.
A do Covid-19 seguimos acompanhando os noticiários e a orientações de prevenção e segurança para enfrentarmos e sairmos dessa com o menor número de mortes e de falência de pequenos negócios, que é o que faz nossa economia girar.
Já a das Lives nos abre um portal para um novo e nunca antes vivido momento da comunicação como um todo, seja corporativa, seja do entretenimento, marketing, treinamento, balé, zoológico, pets e até o Papa! Pode pensar qualquer área específica que você vai encontrar uma live pra chamar de sua. Ouvi recentemente que até um puteiro de Goiás tem feito lives. Enfim: tem pra todo mundo.
Não custa lembrar que eventos “ao vivo” e “virtuais” já existem há muitos e muitos anos, eu mesmo em minha trajetória no audiovisual cheguei a produzir vários eventos virtuais para grandes marcas no passado, em meados de 2010. Mas na época não tinha esse nome e gourmetizado. A gente chamava de transmissão simultânea na internet, streaming, transmissão online ou transmissão via satélite. Sim, satélite, porque de fato era mais complexo do que simplesmente apertar um botão como é hoje e a gente ainda precisava construir um site todo preparado para receber o sinal. Pois é, um dia isso tudo já foi mato alto.
Mas por que agora (logo agora!) a moda pegou?
Segundo dados do YouTube, as buscas por conteúdo ao vivo cresceram 4.900% no Brasil durante a quarentena, acompanhando um fenômeno mundial. Nesse mesmo caminho, o Instagram registrou um aumento de 70% no uso das lives – tanto para transmissão quanto para consumo.
Não sei se vocês se recordam, mas a função de Live no Instagram existe desde 2016 e no Youtube ainda antes. A rede social lançou a função Live em 2008, mas no Brasil o lançamento aconteceu somente em novembro de 2010 e adivinha como? Com um show de sertanejo com três horas de duração e participação dos artistas João Bosco e Vinicius, Michel Teló, Luan Santana, Bruno e Marrone e Victor e Léo. Também não estranhe se eu disser que a Skol foi a patrocinadora do evento na época.
Não havia Covid-19, então para esse primeiro show Live acontecer foram mais de 150 profissionais envolvidos, 20 câmeras em HD e 2 Diretores trabalhando em conjunto para o envio das imagens em tempo real. Tirando a parte de pessoas aglomeradas trabalhando, te parece um déjà vu do momento atual?
Que a moda pegou, não há dúvidas, inclusive gerando novas oportunidades para todos que produzem conteúdo, desde música, atividade física, negócios até astrologia e conteúdo geek. É caminho fértil para bons empreendedores que até lançaram site e aplicativo para organizar e catalogar todas as lives que acontecem diariamente em todas as plataformas disponíveis – das abertas até as de links fechados. Com apenas um mês de operação, o BuscaLive já tem número expressivos com mais de 1.000 lives cadastradas em sua plataforma, por exemplo.
Mas qual é a grande diferença entre o conteúdo de uma Live e um conteúdo gravado? Qual é o segredo que faz a audiência das lives ser de 10 a 20 vezes maior do que a dos vídeos gravados?
Tenho lido muita coisa por aí que também é verdade: baixo custo, facilidade de estar em várias plataformas simultaneamente e poder de alcance. Eu concordo, mas isso é uma visão somente do ponto de vista do produtor de conteúdo e econômica. As Lives estão ressignificando a comunicação por um simples motivo: tempo.
Tempo é o nosso bem mais escasso e mais democrático. Todo mundo tem as mesmas horas no dia. E é por essa razão que as lives são tão poderosas.
Porque quando estou assistindo a sua live, eu estou ali contigo, ao mesmo tempo, compartilhando os mesmos minutos da nossa vida. Se você está cantando e cai na piscina, eu caio junto. Se você está explicando algo e a câmera cai, eu caio junto também. Se você está dando um show e fica bêbado, eu estou ali junto, talvez não bêbada, mas rindo. Se te dá uma crise de riso ou de soluço no meio da live, eu estou ali contigo, ao vivo, presente. Mas eu na minha casa e você na sua.
Eu assisti boa parte do festival online One World: Together at Home (“Um mundo: juntos em casa”, numa tradução livre), com curadoria de artistas de todo mundo feito por Lady Gaga.
Obviamente não posso tirar o mérito da complexidade de um evento global desses, mas sabe o que não me fisgou no evento e parte – na minha opinião – de que o evento não teve o impacto que merecia?
Boa parte das coisas ali eram gravadas, então eu estava ali, no meu precioso tempo, vendo um vídeo gravado em qualquer outro momento que não aquele que eu estava vivendo e compartilhando, afinal ONE WORLD TOGETHER – só que não.
Porque ali, naquele momento de Live existia apenas uma parte da comunicação together: a audiência. A outra parte, músicos e artistas, com suas apresentações gravadas, não estavam ali como emissores no mesmo tempo que eu e sim como espectadores de si mesmos de um passado gravado e exibido em primeira mão. Então eu não precisava ver, a experiência deixou de ser audiovisual, para virar somente áudio, com a live plugada no som e fui fazer outra coisa. A parte útil foi descobrir novas bandas incríveis do mundo todo que entraram para a playlist.
E a comunicação, no fim do dia, é isso. Emissor e receptor de uma mensagem acontecendo ao mesmo tempo, ação e reação e os tropeços no meio do caminho. Qualquer coisa diferente disso, é recado. Você vê quando quer – se quiser – e responde quando puder.
Minha aposta é que essa moda não é passageira e que, ainda que forçadamente, as pessoas e marcas descobriram seu potencial, e isso abre um espaço enorme de transformação e evolução nas estratégias de branding e conteúdo.
E se quiser dar uma espiada no futuro das lives, fique de olho nas realidades imersivas, que já são uma realidade. Agora imagine isso ao vivo.
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